9/19/2005

O início

Num grande número de fotografias da minha infância eu apareço com flores na mão ou a mexer nas ervas do chão. Mas só me lembro de começar a gostar conscientemente das plantas alguns anos mais tarde. Acho que em pequena gostava mesmo era de as destruir. Enfim, talvez não as estivesse a destruir, mas sim a analisá-las cientificamente. E talvez em resultado dos conhecimentos daí extraídos tenha nascido a minha vocação - segui o ramo científico e licenciei-me em Biologia Vegetal.O curso deu-me oportunidade de aprofundar o meu gosto e conhecimentos sobre as plantas, mas não era a ferramenta adequada ao tipo de relação que eu mais desejava ter com elas. O que eu queria mesmo era mexer nelas, vê-las crescer, cuidar delas, multiplicá-las e a maior parte do meu trabalho enquanto bióloga vegetal envolve tubos de ensaio, caixas de petri, células vegetais, mas plantas a sério, dos pés à cabeça, raramente estão envolvidas.
Algures a meio do meu curso conheci a agricultura biológica. Já era ecologista desde tenra idade e gostava de plantas, mas nunca tinha tido qualquer interesse pela agricultura. Até que devo ter lido algumas coisas que me fizeram perceber o papel crucial que esta tem em toda a existência humana, não apenas como forma de subsistência, mas como forma de relacionamento com a natureza e como forma de manutenção do equilíbrio psicológico e espiritual da humanidade.
Fiz-me sócia da AGROBIO, comecei a comprar livros sobre agricultura biológica, a fazer experiências de compostagem e jardinagem na varanda e um dia resolvi começar a praticar "mais a sério" na horta da minha avó Adélia. "Mais a sério", porque no fundo ainda era a brincar... Fiz umas quantas sementeiras e colheitas frustradas e, por falta de tempo (ou má organização), acabei por visitar a horta de mês a mês ou menos que isso, até que deixei de lhe dar atenção de todo.
Em Julho deste ano frequentei um curso técnico de Permacultura, que mais do que me ter dado conhecimentos técnicos e de ter sistematizado outros conhecimentos dispersos que eu já possuía, mudou a minha vida. Foram 10 dias literalmente fora deste mundo, que tiveram o condão de mudar as minhas rotinas quando voltei novamente ao mundo. De repente, cada minuto da vida se tornou ainda mais precioso para ser desperdiçado em coisas que não sejam para o bem da humanidade ou para o equilíbrio do planeta. Também percebi que estava a tentar dar passos grandes demais e que por isso não estava a conseguir avançar.
Então decidi mudar de horta. Comecei a jardinar em casa dos meus avós Maria e Manuel, que é bem mais pequena, mas também bem mais pertinho de minha casa. Comprometi-me a ir lá um dia por semana e a transformá-la radicalmente no espaço de um ano. Se conseguir fazê-lo, então avançarei para projectos maiores e mais ambiciosos.
Desejem-me sorte :)

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