3/24/2006

Planos mais detalhados

No início deste blog apresentei um proto-projecto para o espaço que pretendo transformar. Mas passados alguns meses de observações mais detalhadas do espaço e da sua dinâmica, concluí que é preciso alterar o plano inicial de forma quase radical. Passei para o papel as minhas novas ideias e vou explicar o porquê da mudança de planos.
Mas antes de passar às mudanças de planos, começo por mostrar o esquema da parcela da horta a que me tenho dedicado nos últimos tempos. Criei canteiros e caminhos e já semeei pelo menos metade deles com ervilhas, alhos, couves, espinafres, nabiças, alfaces... Optei por um desenho em linhas rectas, porque a presença das árvores (a maior parte delas de copa muito baixa) não facilita a movimentação nesta parcela, nem a criação de um esquema mais fluido. Talvez mais tarde eu tenha alguma ideia de como organizar o espaço de outra forma, mas por enquanto vou experimentar este modelo.
Quanto aos meus novos planos, as maiores alterações que fiz foram passar o lago previsto para a parte da frente, para a parte de trás da casa e passar a pilha de composto que estava na parte de trás, para a parte da frente da casa.
Concluí, após estes meses de utilização, que o local onde iniciei a pilha de composto, apesar de ser óptimo para o composto (é abrigado do vento, do frio e do sol excessivo) não é um local prático e acessível e muitas vezes tenho que me forçar a ir lá colocar a matéria orgânica, porque não me apetece mesmo nada (fica "longe" da casa). Decidi por isso criar um compostor em frente à casa. Neste momento o local previsto é muito exposto, mas pretendo colocar vegetação à sua volta, pelo que ficará mais protegido.Nesta mesma parcela frente à casa, onde colocarei o compostor, pretendo plantar um castanheiro - no último Outono comprei castanhas biológicas e uma delas estava a germinar; coloquei-a num vaso e cresceu uma linda árvorezinha :) Plantá-la-ei no centro e à sua volta criarei canteiros elevados de ervas aromáticas em forma de espiral. O muro à volta será coberto de heras (neste momento é-o parcialmente) e enriquecerei o espaço com mais alguns arbustos de frutos, trepadeiras, enfim, o que a imaginação ditar e o espaço permitir. Decidi colocar o compostor no canto virado para o caminho empedrado, para que possa tirar o composto facilmente e levá-lo para as outras hortas, sem ter de entrar na zona ajardinada.
Quanto à parte de trás da casa, no local onde agora tenho a pilha de composto, irei construir estufins, pela mesma razão porque neste momento tenho lá o composto - porque é abrigado. Para facilitar o acesso a essa zona, e não sentir tanta preguiça de lá ir como sinto agora, pretendo criar canteiros elevados perpendiculares ao caminho cimentado, criando assim também caminhos directos aos estufins. Neste momento esta parcela de horta está a produzir bem, mas tem um aspecto um bocado caótico. Não gostei quando algumas pessoas disseram mal desta minha horta :), mas reconheço que da maneira selvática como se está a desenvolver, não é lá muito prática.
Quanto à parcela ao lado desta, decidi que era a ideal para criação de um pequeno lago e plantação de uma árvore de folha caduca. O primeiro desenho está enganado, pois é precisamente no lado direito e não no lado esquerdo, que pretendo plantar a árvore e posicionar o lago, tal como aparece no 2º desenho. Talvez esteja a cometer um erro grosseiro, mas com base no que estudei sobre ensombramento, reflexão da luz e bioclimatização, penso estar a fazer isto bem. Esta esquina da casa fica virada a sul e recebe em cheio a luz do sol. A combinação do lago e da árvore de folha caduca vai permitir que o sol seja canalizado para a casa no inverno e bloqueado no verão.

Quer no caminho de entrada a partir do portão, como no caminho cimentado atrás da casa, gostava de colocar pérgolas e formar 2 túneis verdes.
Por enquanto são estas as melhores ideias que já tive. Não significa que não sofram novas mudanças pelo caminho :)

3/21/2006

Puxar o céu para baixo

Continuo a cavar. Neste momento dói-me o corpo todo, mas sinto-me satisfeita com os resultados. Não tenho fotografias para mostrar, porque queria esperar até a horta ficar toda verdinha, mas sou capaz de ainda tirar uma fotografia antes disso, só para verem os canteiros preparados e as árvores em flor.
Estes momentos de trabalho mais intensivo na horta têm-me permitido um maior contacto com os vizinhos.
Uma senhora de 86 anos que passava e me viu cavar, disse-me que sempre cavou, que ainda hoje cava um pouquinho e que isso só lhe fez bem. Encorajou-me a continuar a cavar e disse-me que "cavar é puxar o céu para baixo". Não conhecia esta expressão e achei muito bonita. Acho que além da referência óbvia ao movimento que se faz a cavar, a expressão tem também algum significado místico, pois ao trabalhar a terra o ser humano torna-se um intermediário entre as forças do céu (sol, chuva, vento, lua) e da terra. Mas se eu expusesse essa ideia à senhora, o mais certo era ela considerar-me maluquinha...
Um outro vizinho viu-me cavar e veio dar-me uma lição de como cavar correctamente e com o mínimo de esforço. infelizmente não nos entendemos muito bem pois ele insistia que a mão que aplica a força é a direita e eu insistia que apesar de não ser canhota, tenho mais força na mão esquerda. Incorporei alguns dos conselhos dele, mas continuo a cavar com as mãos "trocadas", porque a forma que ele me ensinou custa-me muito mais esforço.
E um terceiro vizinho viu-me cavar mesmo no limite do terreno que faz fronteira com o dele e veio interpelar-me com maus modos. Disse-me que eu não tinha nada que andar ali com a enxada, que aquele pedaço de terra (para aí 30 cms para lá da fronteira) lhe pertencia. Não gostei dos modos dele, mas como eu sou muito diplomata, mantive o meu sorriso e com voz cândida pedi-lhe desculpa, disse-lhe que ele tinha razão, mas que não se preocupasse pois não só eu não pretendia destruir-lhe a propriedade, como pretendia definir melhor a fronteira e plantar ali arbustos que reforçassem a estabilidade do solo e demarcassem claramente os limites do terreno de cada um. Aos poucos ele acalmou-se e pediu-me desculpa pela sua atitude. Disse-me que já tinha tido uma zanga com o dono anterior do terreno, pois este usou e abusou do que não era dele e daí ele já vir desconfiado das minhas intenções.
É impressionante este sentimento de posse que as pessoas sentem em relação à terra, que por vezes as leva a matar outras por meros 30 cms de terreno. No entanto, apesar de o repudiar, eu própria já provei desse sentimento.
Ainda não o mencionei, mas uma família vive no 2º andar da casa dos meus avós e apesar de eles só terem direito a usufruir do interior da casa, eles estão mais ou menos habituados a usar o espaço exterior sem restrições e sem autorização. Têm o hábito de usar o alpendre para estenderem roupa, de cavar a horta em busca de minhocas para a pesca e de espalhar ratoeiras e restos de comida para gatos pela horta fora. Têm filas de vasos com plantas em frente à casa (que gostaria que lá não estivessem, para que eu pudesse usar o espaço da forma que entender), mas como é algo positivo, tento não implicar com isso. Por fim têm o péssimo hábito de mexer nas minhas coisas: se coloco um vaso num sítio, da próxima vez está noutro, se encontro um bom local onde colocar sacas de terra, da próxima vez encontro-as empilhadas noutro local diferente, etc. Já lhes foi dito que não mexessem no que não lhes pertence e que se moderassem nas suas atitudes expansionistas, mas sem grandes resultados. Por isso às vezes dá-nos vontade de os expulsar dali para fora.
O meu instinto leva-me a desejar que eles desapareçam dali e que não mexam na "nossa" terra, mas eu quero ser melhor que isso, quero ser capaz de ultrapassar esse sentimento. Não quero ser como o meu vizinho do lado que ameaça os outros por causa de 30 cms de terra nua.
Por isso o melhor será tentar ter uma boa relação com eles. Estou esperançada que consoante eles forem vendo o meu projecto tomar forma, se sintam menos à vontade para mexer nas coisas sem autorização. Gostaria também de os envolver nos meus planos e transformá-los de "inimigos" a colaboradores. Uma vez que eles estão presentes todos os dias, podem melhor do que eu guardar o espaço, regar as plantas, observar se está tudo bem e o que precisa de ser feito.
Afinal de contas a Permacultura também trata de relações humanas, vida em comunidade, partilha de recursos e eu gostaria de desenvolver também essa faceta de permacultora, além das habilidades de horticultora. Mas isso será talvez a tarefa mais complicada, porque sou muito tímida, introvertida e bicho do mato e não tenho facilidade em relacionar-me com as pessoas que não conheço.

3/14/2006

Atraso

A preparação do terreno tem-me dado muito trabalho. Tenho ido à horta 2 a 3 vezes por semana, por períodos de 3 horas e ainda só consegui preparar uma das duas áreas que tinha planeado cultivar esta Primavera. Começo a pensar que talvez só consiga tratar deste bocado de terra e que terei de deixar a outra área para uma outra época.
Devido a este atraso relativamente aos meus planos, comecei a pensar: Porque será que não consigo despachar o trabalho da horta tão depressa como o planeio? Será que sou lenta, preguiçosa, que faço mal as coisas e por isso demoro o dobro do tempo? Se calhar acontece um pouco de tudo isso, mas penso que também será porque o terreno estava tão abandonado e caótico, que eu estou a ter muito mais trabalho do que aquele que esperava só na preparação do terreno, atrasando todos os outros planos que quero pôr em prática.
Por exemplo, após arrancar todas as ervas do terreno (fiz uma pilha de cerca de 1m3 com elas) e de ter cavado (a pouca profundidade) todo o terreno, percebi que tinha de podar uns arbustos que estavam num dos cantos do terreno e a ocupar um bom espaço que podia ser aproveitado para cultivo. Meti mãos à obra e lá se passaram as 3 horas de trabalho... Agora tenho um monte de ramos e troncos da minha altura para cortar, serrar e arrumar algures - mais umas horas de trabalho...
(Uma destroçadora vinha mesmo a calhar, pois por enquanto não tenho destino a dar aos ramos e gostaria de usar aparas desta madeira para cobrir o solo. Mas se nenhuma cair do céu, terei de esperar até poder comprar uma. Embora eu evite comprar máquinas, acho que estas são muito úteis e penso que se incluem no que a Permacultura considera "tecnologia adequada".)
Também aproveitei o terreno estar recém-liberto de ervas, para transplantar heras ao longo de todo o muro frente à casa. Perto duma esquina do muro existe bastante hera, no entanto ela não se tem espalhado pelo resto do muro, o que eu gostava que acontecesse. Dar esta mãozinha à hera custou-me mais uma hora de trabalho. E a horta continua atrasada...

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