03 novembro 2006

Vida simples

Como disse, consigo ter uma pegada ecológica muito menor aqui em Bruxelas do que quando vivia em Portugal. Por várias razões, algumas delas que me foram impostas e não voluntariamente aceites, mas que eu resolvi abraçar como uma oportunidade de recuperar um estilo de vida mais simples.
Estou a viver num mini-mini-mini-apartamento, que não mede mais de 7m2 e que é basicamente um quarto com casa-de-banho, um micro-ondas e um frigorífico. O meu dia-a-dia sofreu uma simplificação muito grande graças a isto, porque o espaço é limitado para a acumulação de bens e eu tenho que possuir apenas o essencial. Além de cama, o material de cozinha mínimo indispensável, um guarda-roupa com muito menos roupa do que eu estava habituada a ter e uma estante com livros, só tenho o meu portátil e um pequeno rádio. Ah, também tenho uma gaiola com um rato albino que encontrei perdido na rua, mas estou a pensar dá-lo a alguma família adoptiva que prometa tratar bem dele, porque neste momento não posso ter nenhum animal dependente de mim.
Tenho poupado muita água, por várias razões. A água do meu banho é aquecida numa pequena caldeira com pouco volume de água, por isso se eu quero evitar terminar o meu banho com água fria, tenho que gastar apenas a água essencial para me molhar e enxaguar rapidamente. Depois não tenho lava-loiça, apenas o lavatório da casa-de-banho e é lá que tenho que lavar a loiça e os legumes. Para evitar situações menos higiénicas, comprei dois alguidares para colocar no lavatório alternadamente: um para quando lavo a cara e os dentes e outro para quando lavo a loiça. Como resultado, recolho toda a água consumida e desde que aqui cheguei há 2 meses, praticamente só usei o autoclismo 5 vezes, porque todas as outras vezes utilizei a água recolhida nos alguidares.
Por questões económicas fui forçada desde o início a procurar lojas e feiras de produtos em 2ª mão para comprar o máximo daquilo que necessitava, o que tem sido excelente, porque desde o ferro de engomar, passando pelos tachos e panelas e acabando em roupas e sapatos, tenho comprado quase tudo em 2ª mão, o que é bastante mais ecológico do que comprar novo.
Este mês vou fazer a experiência de comprar apenas produtos biológicos e ecológicos. Obviamente toda a gente me diz que o dinheiro que eu recebo por mês não chega para isso. Talvez não, mas eu estou convencida que sim e vou tentar provar isso. Claro que se a meio do mês já não tiver mais dinheiro para isso, vou ao mercado comprar legumes cheios de pesticidas, mas vou tentar. Acho que se me focar no essencial e cortar nas coisas que não são realmente necessárias, isso é possível. O problema das pessoas é que antigamente praticamente todo o seu rendimento era gasto na alimentação, mas hoje em dia querem ter dinheiro para ir ao cinema, para andarem de automóvel, para comprarem cds e jogos para a Playstation e já não estão dispostos a dar mais que uma percentagem mínima do seu rendimento para se alimentarem como deve ser. Lembrei-me agora mesmo do comentário duma colega minha aqui do escritório que diz que eu como demasiada fruta e verduras. Quando eu lhe perguntei o que raio queria dizer com isso, uma vez que a fruta e as verduras nunca são demais, ela diz que são alimentos muito caros comparados com cereais, feijões, batatas, etc, que enchem mais a barriga. Ela é quase vegetariana, praticamente não come carne, no entanto nunca a vejo comer fruta e verduras, apenas glúcidos e mais glúcidos. Se eu comesse como ela, neste momento pesava 80 kilos, mas penso que ela tem um metabolismo mais acelerado que eu, por isso continua magra. Mas a questão não é essa, a questão é que as pessoas só pensam no balanço dinheiro/calorias e acham que gastar dinheiro em nutrientes em vez de calorias é dinheiro mal gasto. Esquecem-se que a coisa mais preciosa que temos é a nossa vida e que para ela ser longa e frutífera, temos que ser saudáveis e que para sermos saudáveis não são as calorias ingeridas que contam, mas a quantidade de nutrientes.
Não sei para onde vou e fazer o quê, depois desta minha experiência em Bruxelas, mas seja aonde for, quero prosseguir com este estilo de vida: sem carro, sem tv, com o mínimo de produção de resíduos e de consumo de água e electricidade, com uma pegada ecológica bem mais reduzida, porque dá-me muita tranquilidade finalmente viver como sempre desejei mas nunca consegui.

Número total de visualizações de páginas