5/31/2012

Frescos, biológicos e locais

"Locavore" é o termo inglês que designa quem procura consumir alimentos produzidos na sua área de residência, como forma de apoiar a economia local, consumir produtos frescos e nutritivos e reduzir a pegada ecológica (especialmente em termos de CO2 que é poupado, com a redução significativa das distâncias de transporte dos alimentos).  Não existe um termo equivalente em português, seria algo como locávoro, que soa mesmo muito mal, mas já existe muito boa gente que tenta aplicar este princípio na hora das compras.
Uma das minhas mais recentes preocupações era precisamente passara consumir mais localmente, mas hoje em dia mesmo nos mercados só se encontram basicamente produtos importados. Aminha mãe costuma comprar a alguns poucos velhotes que ainda têm as suas hortinhas e garantem não usar químicos, mas são uma espécie em vias de extinção.
Eis quando - estando eu ainda a planear um dia pensar melhor no assunto - o homem dos sete ofícios que veio fazer algumas obras a casa da minha mãe mencionou ter iniciado uma pequena produção biológica de hortícolas, no seu terreno a escassos 2-3 kms da nossa casa. Adoptado!
Visitamos o blog dele para saber das novidades, mas ele também nos liga quando tem algo para vender. Mais ou menos a cada semana e meia vamos buscar a nossa encomenda. 


E é um prazer consumir estes produtos fresquinhos, nutritivos e locais. 
Em troca levamos-lhe os nossos resíduos orgânicos, para juntar à sua pilha de composto. Numa família de 4 pessoas que consomem imensos frutos e vegetais, chegam a ser cerca de 75 lts (3 sacos grandes) de resíduos. Estamos a negociar com ele um descontozinho com base nessa troca, mas sabemos que será apenas simbólico. O maior valor ganho com este negócio é a satisfação de apoiarmos um agricultor local e consumirmos Alimentos com "A" grande, não aquelas coisas que se parecem vagamente com comida, mas são basicamente celulose com água e nitratos.

5/27/2012

Café bio em cápsulas

Esta nova moda dos cafés em cápsula que servem exclusivamente na máquina de café de determinada marca, incomodou-me desde o primeiro dia.
Primeiro, quem compra uma máquina de determinada marca, fica obrigado a consumir exclusivamente café daquela marca, o que é um atentado à liberdade de escolha. Se a empresa falir ou por alguma razão deixar de fabricar aquele tipo de cápsulas, será que reembolsa o cliente pelo investimento na máquina? Ou se simplesmente decidir subir o preço das cápsulas e a pessoa quiser mudar de sistema, quem a reembolsa do investimento na máquina?
Segundo, o custo ambiental de se fazerem cápsulas de plástico ou alumínio para cada dose de café, mais o custo ambiental destas irem para o lixo ou mesmo serem recicladas é muito superior ao de uma embalagem de café com 30 ou 40 doses.
Claro que ninguém é obrigado a aderir a estes sistemas de cápsulas, mas com a explosão de marcas que agora oferecem esta opção, há a possibilidade de um dia não termos senão essa opção. O pensamento monopolista por trás de todo este conceito está errado.
Curiosamente, apesar das questões que me incomodam com estas máquinas, acabaram por vir parar uma a casa da minha mãe e outra à minha.
Claro que eu não podia deixar de fazer alguma coisa para contornar os problemas que elas levantam. Experimentei vários métodos de piratear as cápsulas usadas para poder usá-las com outro café, especificamente café biológico e de comércio justo. E depois das contas feitas, não é que fica 3 a 4 vezes mais barato do que o café convencional de comércio "injusto"?


Uma das máquinas é da Nespresso e o método que funcionou melhor com estas cápsulas foi colocar um pedaço de filtro de café entre a cápsula e a grelha em que esta encaixa. [É preciso retirar o depósito de cápsulas usadas e colocar a cápsula e o filtro na posição certa, ajudando a posicioná-la por cima e por baixo]. Tentei com papel de alumínio, mas era frágil de mais e encarquilhava em vez de furar. Talvez resulte se for um papel de alumínio forte e não aquele que se usa para embrulhar sanduíches, mas eu prefiro o filtro de café, pois é biodegradável.



A outra máquina é da Lavazza e com esta o papel de alumínio funciona muito bem e permite que se preparem as cápsulas com antecedência e se coloquem de reserva, ao contrário das outras que têm que ser preparadas na hora, mas também hei-de experimentar com papel de filtro.



As marcas destes cafés desaconselham a reutilização das cápsulas argumentando que o método poderá estragar as máquinas. Não vou dizer que é mentira, pois poderá acontecer, uma vez que estes sistemas estão desenhadas para funcionar a certas pressões e qualquer perturbação poderá causar desarranjos a longo prazo. Mas até agora não tive qualquer problema, excepto durante as minhas primeiras experiências em que entupi a máquina Nespresso algumas vezes (mas nada que uma passagem de água não resolvesse) e desde que encontrei o método mais adequado, não voltou a acontecer.

5/24/2012

Andorinha Primavera

Ao sair de casa, a minha mãe encontrou uma andorinha moribunda, literalmente a ser devorada por insectos. Percebeu que a coitadita ainda mexia, pegou-lhe e removeu os bicharocos todos que a atormentavam. Quando a trouxe para casa, estava tão chochita que não acreditávamos que pudesse recuperar. Apenas esperávamos poder dar-lhe algum conforto.

Coloquei-a numa cesta de verga aconchegada por uma toalha. Dei-lhe água com uma seringa mas ela mal parecia sorver alguma coisa. Pesquisei na net sobre a o que dar de comer a uma andorinha resgatada. Algumas pessoas sugeriam papa de pão com leite se fosse uma cria, mas isso pareceu-me inadequado a um animal insectívoro. Encontrei então uma sugestão de fazer uma papa com ração seca de gato, especialmente uma que fosse à base de carne e não de cereais. Inicialmente dei-lhe a papa muito diluída através da seringa, porque ela continuava a não querer comer. 
Dei-lhe muito quentinho e carinho, mantendo-a grande parte do tempo enroladinha num pano de encontro ao peito. Se há coisa que aprendi ao tomar conta de muitos animais doentes, foi que acima de tudo eles precisam de estar em contacto connosco. Diz-se sempre que se devem deixar os pássaros num local escuro, silencioso e sem interacção, mas eu descobri que aquilo que lhes posso dar melhor que comida e água, é a minha energia. Muitos animais que eu sei que teriam morrido mesmo com os melhores cuidados médicos, só se safaram porque lhes dediquei essa atenção carinhosa. 
Mesmo sem comer grande coisa, a andorinhita arrebitou muito durante a primeira tarde. Como receei que morresse durante a noite, fui vê-la de 2 em 2 horas, mas ela ferrou no sono e não acordou toda a noite. Dormiu muito melhor que eu.
No segundo dia já mostrou mais interesse na comida e já começava a dar às asas. Percebi então que tinha uma das asas magoada e que não conseguia voar. Quando ela própria percebeu essa situação, rendeu-se aos meus cuidados e durante alguns dias ficou perto de mim enquanto eu trabalhava, pedindo-me comida e água de hora a hora.

 

Entretanto comprei numa loja para animais uma ração mais apropriada, para aves insectívoras. Instalei diversas armadilhas para moscas nas janelas e varandas da minha casa, mas durante dias, nem uma lá caiu e a pobrezita teve que continuar a comer papa.
Cada vez que ela se sentia com mais coragem, indicava-me que estava pronta para dar às asas e eu deixava-a esvoaçar pela sala. A recuperação foi lenta. Demorou cerca de 2 semanas e meia até a andorinha começar a voar perto da sua melhor forma. Mas entretanto começou a ter diarreia de estar à tanto tempo numa dieta que lhe era pouco natural.
Consegui reverter isso rapidamente dando-lhe alguns bichos que encontrava esmagados num passadiço junto ao rio onde inúmeros bichos-da-conta e outros insectos são acidentalmente esborrachados pelos transeuntes. 
Um dia ou dois depois, totalmente recuperada da diarreia e a voar aparentemente sem problemas, começou a dar sinais de impaciência, indicando-me que queria ir embora. Eu queria dar-lhe a liberdade, mas já me custava deixá-la ir. Afeiçoei-me muito à pequenita. Passou muito tempo ao meu colo, ou aninhada nos meus ombros e cabeça. Subia para o meu dedo e passeava comigo pela casa. Deixava que lhe fizesse festas e lhe desse beijinhos e fazia um ar muito doce, derretidinha com os mimos.
Mas se não a libertasse, tudo isto teria sido em vão.
Com ela empoleirada no dedo, levei-a até à marquise e abri a janela. Olhou para mim desconfiada como quem dizia "É mesmo a sério? Posso ir embora?". Ri-me e disse-lhe "Vai, és livre de ir para casa." Ela deu uma volta na marquise em jeito de despedida e lançou-se janela fora. No exterior deu umas quantas piruetas de alegria por poder voltar a voar na vastidão do céu e depois juntou-se a um bando de andorinhas que nidificam no prédio do lado. Ainda a segui com o olhar durante um tempo, mas depois perdi-a no meio das outras, mas percebi que tinha voltado a casa e fiquei feliz.
Passados dias, comecei a desconfiar que ela me estava a visitar, ao notar uma certa andorinha a passar todos os dias a rasar a janela da marquise. O "chirp-chirp" dela é-me muito familiar e mesmo que eu esteja dentro de casa distraída com alguma coisa, se ouvir aquele "chirp-chirp" no meio de tantos outros, levanto logo a cabeça e sinto que é ela.
Uma destas manhãs acordei com uma canção maravilhosa no parapeito da janela do meu quarto. Até os meus gatos estavam em polvorosa, como se reconhecessem aquele canto. Então vimos que era a nossa andorinhita que nos tinha vindo visitar. No dia seguinte a mesma coisa e ficou durante bastante tempo ali a cantar. Agora deixo-lhe sempre no parapeito um pequeno recipiente de água e outro de comida (caso queira um suplemento ou sobremesa), mas ela não tem dias certos para vir. Deve ser quando lhe dá jeito lá na sua agenda :)

5/06/2012

Leite de aveia cru

Há muitos anos que deixei de consumir lacticíneos e em concreto de beber leite de vaca. Depois de ter deixado de beber o leite materno, biologicamente nunca  mais deveria ter bebido leite e muito menos leite que é naturalmente destinado a bezerros. No entanto - questão  cultural - cresci a beber leite de vaca e ficou-me o hábito de colocar qualquer bebida esbranquiçada no café ou a acompanhar os cereais. Quando decidi deixar os lactcíneos, decidi então virar-me para os leites vegetais.

[Antes que algum purista argumente que leite é só o dos mamíferos, lembro que de acordo com diversos dicionários, qualquer substância leitosa pode ser chamada de leite. Ou também acham que se deve proibir de se chamar leite corporal aos hidratantes ou leite de magnésia ao antiácido? A campanha "anti leite vegetal" foi lançada pelo lobby dos lacticíneos, num esforço para diferenciar as ""bebidas vegetais" do "leite". Embora discorde do argumento linguístico, curiosamente considero que têm razão num ponto: realmente estas bebidas não são comparáveis. Os leites vegetais são bem mais saudáveis!]

Um litro de qualquer leite vegetal é geralmente bem mais caro que um litro de leite de vaca, com excepção actual do leite de soja, que já tem um preço muito mais acessível graças à vulgarização do seu consumo. Por isso, há alguns anos que compro pacotes de leite de soja. Mas para alguém sempre crítico como eu, este consumo levanta-me diversas questões.


Antes de mais, a não ser que o leite seja biológico (logo, mais caro), nunca tenho a certeza absoluta de que a soja utilizada não seja parcialmente transgénica. Na Europa, como os alimentos transgénicos têm de ser rotulados, as empresas optam por não os vender directamente ao consumidor, que os rejeita (vão antes para as rações animais), mas a contaminação acontece e a fiscalização é esporádica, por isso corre-se sempre algum risco no consumo de soja. 

Em seguida, preocupa-me a quantidade de pacotes tetrapak que semanalmente separo para reciclagem e ainda algumas questões por estar tão dependente diariamente de um produto tão "fabricado" ou processado, algo que eu procuro cada vez mais eliminar da minha dieta.

Para garantir que o meu leite de soja não era transgénico, mas também numa tentativa de poupar dinheiro, cheguei a investir numa máquina com a qual fazia leite de soja em casa a partir de grão de soja biológica. Mantive essa rotina durante cerca de um ano, até que uma borracha isolante da máquina se rompeu e ninguém foi capaz de a reparar, ficando a máquina inutilizada. Acho que nunca cheguei a amortizar o valor investido e por isso não senti qualquer motivação para comprar outra máquina. Voltei ao leite de soja convencional de pacote. Até agora.

Decidi tentar fazer o meu próprio leite novamente, sem máquinas especiais e sem complicações. Pesquisei as alternativas e optei por experimentar fazer leite de aveia cru. Razões: facilidade, economia, rapidez, nutrição! 
 
Mais à frente pretendo tentar fazer leite de arroz, amêndoas e nozes, mas para já o de aveia pareceu-me ser o mais adequado e simples.
Guiei-me, grosso modo, por diversas receitas encontradas online, mas na prática fiz tudo um bocado a olho, seguindo o meu instinto em termos de quantidades e foram estas as conclusões a que cheguei. Para 1 litro de leite, basta demolhar cerca de 100 gr de aveia durante 1 a 2 horas (mas também pode ficar de molho da noite para o dia), triturá-la com uma varinha mágica, filtrar o líquido, ajustar o volume de água até perfazer um litro e armazenar! Não é preciso sequer cozer a aveia, poupando-se energia, tempo e preservando mais dos seus nutrientes.



Há quem não goste do sabor "cru" deste leite e não abdique por isso de cozer a aveia, mas eu adaptei-me perfeitamente bem ao sabor e quando quero que fique mais guloso, contento-me em adicionar-lhe uma colher de mel. 
Com o resto sólido da aveia, faço pequenas sobremesas, misturando fruta, passas, canela, mel ou o que quer que a imaginação dite no momento. 


Em termos de poupança monetária, estes são os resultados dos meus cálculos (não incluindo o custo da água e da energia utilizada, considerado minúsculo).





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