9/25/2005

Primeiras observações

Segundo a permacultura, antes de meter mãos à obra, eu deveria ter observado bem, tirado notas e feito uma planificação detalhada do meu projecto, mas confesso que não sou a pessoa mais paciente quando vejo tanto trabalho para fazer e por isso entrei logo em acção. Apesar disso, fiz algumas observações prévias.
Desenhei o esquema da propriedade e medi-o em passadas para ter uma noção mais completa do espaço e das suas potencialidades. Observei um pouco as sombras e zonas ensolaradas e também já conheço um pouco a dinâmica dos ventos no local. Terei de ir observando mais coisas com o passar do tempo, mas não posso demorar-me muito em observações, porque tenho um prazo curto para fazer o máximo de coisas possíveis.
Eis uma fotografia aérea da propriedade, com muito baixa resolução, que consegui no Google Earth e um esquema simples da propriedade tal como ela é agora (as plantas estão representadas na suas posições reais).

Estas são as observações que eu considero mais importantes sobre o espaço:

- não há outra fonte de água sem ser a canalizada e por isso seria importante instalar um sistema de captação de água das chuvas para rega das plantas (mas não vou começar por aí, porque isso exige algum investimento e eu quero começar por tudo aquilo que possa ser feito sem que eu tenha de gastar (muito) dinheiro);

- o solo é muito argiloso e muito pobre em matéria orgânica. No inverno encharca demasiado e no verão seca tanto que parece cimento;

- o terreno por trás das casa é ligeiramente inclinado e a chuva tem erodido o solo e provocado deslizamentos de terra; não só isto é mau para o cultivo, como já se notam efeitos na própria casa - um passadiço em cimento que foi construído em seu redor partiu-se e está a descair;

- a propriedade tem dois pedaços de terra com características distintas, um mais pequeno, frente à casa, virado a nordeste, quase permanentemente debaixo de sombra e outro maior atrás da casa, virado a sudoeste, muito ensolarado;

- os lados noroeste e nordeste estão murados, mas os lado sudeste e sudoeste não têm delimitações físicas.

- na parte da frente, o espaço está dividido em 3 zonas - uma entre a casa e o portão, com chão de calçada, e duas zonas em terra, uma delas aberta e com poucas plantas junto ao muro e outra murada e com árvores;

- a parte frente à casa é extremamente ventosa e a passagem entre a casa e a arrecadação para a parte de trás é um autêntico túnel de vento, fortíssimo em dias ventosos, mas parte de trás da casa é uma zona abrigada em que quase não se sente o vento.

- existem 20 árvores na propriedade, mas na sua maioria estão raquíticas, doentes, com carências nutricionais e secas. Existem plantas dos mais variados tipos, desde bambu, cactos, hera, salsa e outras aromáticas, espalhadas caoticamente pela propriedade ou em vasos.

Com base nalgumas destas observações (ou nem por isso) defini algumas ideias principais, que gostaria de pôr em prática:

- é prioritário criar uma pilha de composto e o local mais adequado parece-me ser o canto esquerdo da parte de trás do terreno, abaixo do alpendre. Está bem protegido do vento e não atrapalha ninguém, porque não tem nenhuma outra utilização (estava cheio de entulho). Não fica muito perto da casa, mas não parece haver outro local tão adequado que fique mais perto;

- é também fundamental cercar a parte de trás do terreno com sebes para travar o deslizamento da terra e a erosão do solo. Estou a procurar plantas que não só sirvam essa função, mas que também tenham aplicações alimentares e/ou medicinais;

- é fundamental aumentar a matéria orgânica no solo e uma vez que não tenho ainda composto suficiente, nem queria recorrer a materiais de outro local, optei por adubo verde - planeio semear leguminosas para cobrir o solo, fixar azoto e gerar matéria orgânica. Já disponho de algumas favas, tremoços, feijão-frade e estão-me prometidos alguns caritos e chícharos. Estou a tentar que as sementes sejam exclusivamente nacionais e de preferência locais (mas locais é mais difícil, porque já ninguém tem variedades tradicionais; até mesmo o meu avô desdenhou eu andar a apanhar sementes para a próxima sementeira, dizendo que compra sempre sementes novas na loja... o que é muito triste...).

- já juntei alguns cartões e palha e assim que tiver suficiente composto, irei fazer mulching na base das árvores.

- na zona murada em frente à casa quero plantar hortícolas, mas terei de seleccionar as que tolerem sombra.

- na zona não murada em frente à casa, quero fazer um laguinho, com plantas aquáticas, pedras e uma fonte a energia solar e talvez plantar umas aromáticas em canteiros elevados. Para o lago estou a pensar aproveitar uma banheira velha em plástico, dos meus banhinhos de bebé :)

- por fim gostava de tornar o resto do espaço mais bonito, porque neste momento impera o mau gosto e a desarrumação. Mas tal como a questão da captação da água, esta também vai envolver algum investimento, por isso essa parte fica para o fim.

9/24/2005

O terreno da experiência

O terreno dos meus avós fica em À-do-Barriga, uma terreola a 10 minutos de Alhandra na direcção de Arruda-dos-Vinhos. Tem uma casa de dois andares, uma adega/arrecadação, uma varanda/alpendre, um pequeno jardim e uma horta, num espaço com cerca de 440 m2. Está tudo um bocado degradado, há lixo acumulado em todos os cantos, o solo é muito mau e as plantas estão todas secas, doentes e a morrer.
Gostava de transformar este pequeno deserto de vida num oásis de vida.
Veremos se sou capaz... :)

9/19/2005

O início

Num grande número de fotografias da minha infância eu apareço com flores na mão ou a mexer nas ervas do chão. Mas só me lembro de começar a gostar conscientemente das plantas alguns anos mais tarde. Acho que em pequena gostava mesmo era de as destruir. Enfim, talvez não as estivesse a destruir, mas sim a analisá-las cientificamente. E talvez em resultado dos conhecimentos daí extraídos tenha nascido a minha vocação - segui o ramo científico e licenciei-me em Biologia Vegetal.O curso deu-me oportunidade de aprofundar o meu gosto e conhecimentos sobre as plantas, mas não era a ferramenta adequada ao tipo de relação que eu mais desejava ter com elas. O que eu queria mesmo era mexer nelas, vê-las crescer, cuidar delas, multiplicá-las e a maior parte do meu trabalho enquanto bióloga vegetal envolve tubos de ensaio, caixas de petri, células vegetais, mas plantas a sério, dos pés à cabeça, raramente estão envolvidas.
Algures a meio do meu curso conheci a agricultura biológica. Já era ecologista desde tenra idade e gostava de plantas, mas nunca tinha tido qualquer interesse pela agricultura. Até que devo ter lido algumas coisas que me fizeram perceber o papel crucial que esta tem em toda a existência humana, não apenas como forma de subsistência, mas como forma de relacionamento com a natureza e como forma de manutenção do equilíbrio psicológico e espiritual da humanidade.
Fiz-me sócia da AGROBIO, comecei a comprar livros sobre agricultura biológica, a fazer experiências de compostagem e jardinagem na varanda e um dia resolvi começar a praticar "mais a sério" na horta da minha avó Adélia. "Mais a sério", porque no fundo ainda era a brincar... Fiz umas quantas sementeiras e colheitas frustradas e, por falta de tempo (ou má organização), acabei por visitar a horta de mês a mês ou menos que isso, até que deixei de lhe dar atenção de todo.
Em Julho deste ano frequentei um curso técnico de Permacultura, que mais do que me ter dado conhecimentos técnicos e de ter sistematizado outros conhecimentos dispersos que eu já possuía, mudou a minha vida. Foram 10 dias literalmente fora deste mundo, que tiveram o condão de mudar as minhas rotinas quando voltei novamente ao mundo. De repente, cada minuto da vida se tornou ainda mais precioso para ser desperdiçado em coisas que não sejam para o bem da humanidade ou para o equilíbrio do planeta. Também percebi que estava a tentar dar passos grandes demais e que por isso não estava a conseguir avançar.
Então decidi mudar de horta. Comecei a jardinar em casa dos meus avós Maria e Manuel, que é bem mais pequena, mas também bem mais pertinho de minha casa. Comprometi-me a ir lá um dia por semana e a transformá-la radicalmente no espaço de um ano. Se conseguir fazê-lo, então avançarei para projectos maiores e mais ambiciosos.
Desejem-me sorte :)

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